Te amar pode ser aquilo que me faz perecer, mas é imprescindível dedicar este sentimento a ti. Nossos pensamentos, sempre entrecortados, andavam em linhas paralelas. Meus maus pensamentos combinavam com os teus. Teus bons pensamentos combinavam com os meus. Somos uma mesma mente em corpos separados. Você foi feito para mim, não há dúvidas. Eu sempre soube que para ser feliz, eu teria que ter alguém como você ao meu lado. Um homem que soubesse suportar as minhas manias e meus TOC's, que me fizesse sentir como alguém normal e não uma desorientada. Talvez porque você também fosse um desorientado.
Nosso destino era incerto. O paradeiro, aleatório. Viajaríamos o quanto fosse preciso para alcançarmos o nosso 'lugar ao sol', no estilo mais clichê de felicidade. Seriamos nômades e hippies, vivendo daquilo que nos fizesse felizes, levando em conta nossas necessidades de nós mesmos. Não faríamos nada que ofuscasse o nosso amor e o desejo que sentíamos um pelo outro.
Ver-te ao meu lado me trazia paz, e me fazia refletir todos os significados da palavra companheirismo.
Pergunto-me porque mentiste para mim. Creio que não há um motivo sequer para esta trivial verdade ter sido escondida. Mas enfim, cada um de nós tem o seu próprio tempo, tem a sua verdade. Quem sabe você achou que não me iria me ferir se escondesse algo tão cruel e monstruoso. Digo que estavas enganado.
Você prometeu que iriamos juntos para onde quer que fossemos, que não nos separaríamos mais. Eramos tão jovens, tão imaturos e inseguros, não havia certeza alguma para ser firmada e concretizada. Não há motivos - e nem desejo - para desfazer os ocorridos. Temos tempo para nos recuperar, para nos refazer de todas as injurias de nossos destinos. De todas as peças que aquele infame nos pregou. Não quero relembrar uma vírgula do que passou, mas em algumas situações é inevitável não pensar em como poderia ter sido diferente, fazer injunções e imaginar situações possíveis.
Proponho-te que esqueça todas as promessas, inclusive a de que estaríamos juntos para sempre. Principalmente essa. Dói recordar esse passado tão recente, mas que já deveria estar perdido em outras eras, mas não posso deixar de pensar em ti, e de rogar-te, mesmo que em pensamento, que volte. Eu tentaria esquecer as mágoas, me jogaria em teus braços, você sorriria e diria: "Então me abraça forte e diz mais uma vez que já estamos distantes do mundo".
Se estivéssemos distantes do mundo nada nos impediria. Somos tão jovens, temos tanto pela frente, uma longa jornada em busca de sonhos impossíveis e realizações inimagináveis, mas que juntos percorreríamos com sucesso e determinação. Eu não temo pela escuridão do meu destino, quando traçado junto ao teu, mas peço que não feche os teus olhos, para que eu ainda tenha um brilho para seguir, uma chance para sobreviver, e um motivo para lutar.
Um amor que por vezes fora renegado e deixado de lado, agora me envolve com vigor, fazendo-me queimar numa pira de verdade e sentimento.
Texto para a 83ª Edição Musical do Projeto Bloínquês.