segunda-feira, março 11, 2013

Como se chama um poema?

Escrevo para desaparecer
Sob as frestas
Da floresta insone;
Através do labirinto
Pop-cultural
Onde, mais que a obra,
O que sobra
(E se pretende imortal)
É o nome.
Escrevo sobre a folha, poemas:
Papel e caneta
Matam minha fome.
Os fonemas
São amigos argutos,
Vestidos de onomatopéias:
Não são Césares
Ou Brutus,
Nem heróis de falsas odisséias.
Escrevo para o mundo real
Uma fábula sem importância:
Quero desafiar, desmontar o banal
Dessa gente fake
E sem substância.
Escrevo
Para quebrar
O espelho vazio,
Esse frágil
“Liame com o mundo”.
Às vezes
Sou como cão no cio;
Minha poesia é a dama
Beijando o vagabundo.
O poema me chama
Mas, como se chama
O poema?
Nesse teorema
Não quero luzes
Nem cruzes
Na batalha da escrita:
Que ninguém tema
Minha certeira bala,
Atingindo outra alma aflita.
O poema grita
Quando alguém o cala,
E fala alto
Quando se irrita.
Reflita:
Escrevo
Para ”suscitar liberdades”;
Nada que digo
Cabe em mim
E nunca sei
Se há mentira ou verdade
Tranqüilidade ou perigo
No começo do meu fim.
Escrevo para atravessar
A linha tênue
Que separa
O espetáculo
Do espetacular.
Palavra por palavra
O poema é receptáculo
Daquilo que quero falar.
Tento especular,
Mas diante
Da linha do tempo,
Lentamente
Minha poesia dá ré,
Até
Ré – começar.


(Augusto Dias) 

sexta-feira, março 08, 2013

De uma alma calada surge um grito.


Fomos caladas, sufocadas por anos a fio...
Décadas, séculos. 
Uma Era. 
E agora, o grito que ecoa aí fora, 
Nos bares, nos lares, nas escolas,
É o nosso. 

O voto que decide, muitas vezes, 
É o nosso. 
A mão que dá sustento, 
É a nossa. 
O dinheiro que ajuda no orçamento, 
Vem do nosso trabalho. 

Somos mulheres, 
Sensíveis, invencíveis.
Somos mulheres, 
Doces, ardilosas, sábias. 
Somos mulheres, 
A parte duramente frágil do belo. 

Resistimos e resistiremos, 
A tudo e a todos.
Porque o poder e a força 
Que há em nossas mãos,
E o grito da nossa garganta,
Nada calará. 

terça-feira, março 05, 2013

palavras afogadas num eu de outrora.


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Eu amei você, depois de muito tempo sem amar ninguém, e categoricamente eu afirmo: eu amei você. E talvez ainda ame, mas agora a minha vontade é de te amar nos braços de outrem, outro que me faça te esquecer. Que beije melhor do que eu imaginei que você beijasse, que diga coisas mais bonitas do que você dizia, alguém que faça o meu dia ser melado, enquanto você só o adoçava. Eu desejo me apaixonar loucamente por outra pessoa, pra esquecer você, pra aprender a viver, pra ter um relacionamento tranqüilo, sem aquela dúzia de problemas que você me trouxe.
Eu escrevi poesia pra você. Eu dormi meses abraçada num travesseiro imaginando quando é que seria você ali, perdido nos meus braços e eu aninhada no teu peito. Caso soubessem da situação em que me encontro, chamar-me-iam de burra ou de iludida? Ou fui apenas mais uma garota boba que se apaixonou pela atenção que lhe dedicaram? Fui? Não, sou. Ainda dói. E o coração ainda palpita, saltita e se solta ao ver teu nome, mas eu ainda conseguirei adestrá-lo, ensiná-lo, reeducá-lo para agir dessa forma na presença de outra pessoa, porque você eu não quero mais, com você eu não consigo mais, machucou demais. 


(Sabes bem que és o alvo, que a bala seja certeira!)