Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho. Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a última luz na varanda. E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na salada – o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor. (Dalton Trevizan)
5 comentários:
Raíssa, é de tu autoria?
se for, parabéns velho, tem uma simplicidade e tão gostoso de lêr :)
beijos
Ah, que belo texto. Eu curto bastante Dalton Trevisam. Estou te seguindo flor, me visite novamente e se puder retribua (: Um beijo, e sucesso! :*
http://railmamedeiros.blogspot.com/
Que lindo *_*
Oi, querida.
Gostei do seu blog.
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Se gostar pode seguir, serás bem vinda lá.
Beijoos ♥
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