Acerca do outono

Vez ou outra, alguém me pergunta: "Qual é a sua estação do ano preferida?", na maior das sinceridades, respondo: "O-U-T-O-N-O". Nunca houve uma criatura sequer que não perguntasse o porque desse gosto. Eu sei, é uma estação meio estranha para se amar, sendo que a primavera e o verão são tão deliciosos, e o inverno -ah, o inverno - é tão aconchegante, mas simplesmente não tem uma explicação exata. Sou híbrida, sempre soube, mas esse sempre foi um dos meus gostos secretos que mais me deixou com incógnitas na mente. Vejamos, talvez escrevendo eu consiga definir, já que - assim como o outono - escrever é uma paixão. A definição de outono em um dicionário qualquer é: Estação do ano que sucede o verão e que precede o inverno. Ao ler isso percebo que algumas pessoas não tem o mínimo de sentimento poético correndo em suas veias. Minha descrição acaba por ser mais longa e - consequentemente - mais complexa, além de mais bela. Outono é uma época de colheita de importantes culturas, ou seja, um período em que se colhe grande parte de todas as coisas importantes que você semeou durante o ano, sendo atitudes boas ou más, variará de acordo com o seu caráter. Quando se fala em maturidade, outono representa uma época de amadurecimento mental e espiritual. É nessa estação que as folhas antigas caem das árvores e dão espaço para as mais jovens - com novos vínculos e renovados órgãos -, fazendo com que ocorra a renovação do velho e a iniciação de um novo ciclo, trazendo a tona a felicidade e a regeneração, tornando novo o que já estava cansado. O Outono é uma estação para os apaixonados pela vida. Sim, acredite, a estação correta para os amantes da vida é o outono, e não o verão, como todos imaginam. Nem todos os dias são de sol, nem todos tão floridos, muito menos extremamente frios. É a estação mais balanceada de todo o ano, trás o equilíbrio e demonstra uma serenidade sem igual. É fase dos pensadores, que ao admirar o ciclo de renovação se inspiram e criam belos quadros mentais, desenhando as belezas de uma estação sem igual e descrevendo com pureza sua íntima relação com os adjetivos provenientes do Outono. Os amores de verão se vão, os de primavera murcham, os de inverno esfriam... Mas e os amores de outono? Nunca ouvi falar em amores deles. Talvez nem mesmo existam. Talvez a estação seja reservada apenas aos pensadores e namorados da vida, e não aos eternos amores, até porque quem reflete e busca significado nos sentimentos, percebe que amor nenhum se torna eterno se não for semelhante ao Outono. O amor busca um aprimoramento eterno e precisa ser regenerado, assim como as folhas das árvores. Paixões quentes como as de verão, se tornam enjoativas. Os belos sentimentos, semelhantes a primavera, se desgastam com a beleza que se finda e junto com as cores, têm seu fim. O inverno traz consigo uma carga de romantismo forçado, algo anormal, como se fosse a única época do ano em que se torna agradável estar abraçado com quem se ama. Por isso, ao fim dessas divagações desnecessárias em torno do Outono, chego a conclusão de que todos deveríamos amá-lo como a qualquer outra estação, ao invés de deixá-lo de lado e tentar passar por ele o mais rápido quanto lhes for possível. É uma época maravilhosa para reflexões e para apaixonar-se mais e mais pela vida, levando em conta, que a regeneração é uma atitude necessária para a boa convivência e para a mecânica da mente.