12.07.2005
Confidente amigo...
Hoje fui julgado. Antes que me critiques... Não,
eu não cometi o crime pelo qual me acusaram. Passei, sim, por uma situação em
que ou matava ou morria, e, como você pode deduzir, eu preferi defender minha
vida. Não gosto de usar o a palavra "matei", mas infelizmente foi
isso que fiz.
Comecei esse diário hoje, já que é um dia
importante para mim, e começarei contando sobre a experiência que tive há
exatamente 70 dias atrás.
Sou Ricardo, tenho trinta e nove anos, trabalho
como segurança em um banco pertencente ao Estado e tenho sérias tendências a
descontrolar-me e agir por impulso. Sim, nós somos treinados para termos
controle emocional, mas por vezes não conseguimos tê-lo e acabamos cometendo
deslizes como esse que cometi.
Eu matei.
Matei para defender a minha valiosa vida. Matei
alguém que não valia nada.
Próximo do horário do fechamento do banco, um
pivete entrou no banco e tentou passar pela porta giratória. Havíamos feito
manutenção na porta, calibrando-a, na mesma manhã do fato. O pivete foi 'barrado'
pelo detector de metais, então sacou uma arma que estava, até então, escondida
no cós de sua calça e começou a atirar contra os vidros da porta giratória, a
fim de abrir passagem até os caixas e conseguir tirar algum dessa experiência.
Meu sangue ferveu quando vi o tal pivete, de no máximo dezessete anos, atirando
contra as predes de vidro e quebrando tudo. Era o meu local de trabalho, o
local que eu deveria proteger, eram as pessoas que trabalhavam ali dentro que
me proporcionavam uma vida confortável graças ao salário que recebia.
Não posso dizer que pensei duas vezes para
atirar. O moleque olhou-me com uma expressão de dor quando atingi sua perna.
Não, não foi um tiro para matar, a minha intenção era apenas incapacitá-lo.
Infelizmente, atingi uma de suas artérias e o garoto não pôde resistir à
hemorragia.
Todos me olhavam como se eu fosse um monstro por
ter atirado em alguém supostamente indefeso. Pobre criança. Eles só não
pensaram que poderiam ter sido atingidos por um dos tiros da arma do garoto e
ter a sua própria vida ceifada.
Levaram-me para a DP e disseram que eu estava
preso em flagrante. Eu até tentei argumentar, mas vi que não faria sentido
algum. Deixei que me algemassem e esperei pelo meu advogado.
Fiquei preso durante 59 dias, aguardando
julgamento, agonizando a cada dia e remoendo uma culpa que não devia sentir. Eu
matei uma pessoa, mas por legitima defesa, para que pudesse, alem de defender
minha própria vida, defender a vida de tantos outros que estavam
presentes.
Após minha estadia na penitenciária, fui levado a
julgamento. E se você, querido diário, pensa que a ação terminou...
Engana-se.
Logo depois de me chamarem para prestar meu
depoimento, um dos aparelhos de ar condicionado entrou em curto circuito e tudo
começou a incendiar. O Juiz foi retirado com urgência e o caos se instalou na
porta do tribunal. Todos corriam para fora e buscavam proteger-se do fogo que
já começava a se espalhar, lambendo as cadeiras dos jurados. Logo comecei a
ouvir as sirenes do corpo de bombeiros e então, soube que o socorro estava a
caminho.
Em menos de três meses, eu passei por duas
situações de risco extremo.
Fiquei detido por mais dez dias, no aguardo de um
novo julgamento, e quando este chegou, minha defesa estava muito bem elaborada
e o que eu tanto esperava aconteceu: fui absolvido.
Hoje, assim que peguei minhas coisas na
penitenciária e tive minha liberdade resgatada, passei em uma papelaria e
comprei um grande e garboso caderno. E este é você, querido diário, as memórias
de alguém que esteve perto da morte, mas encarou-a de frente e resistiu a tudo
que lhe impuseram.
*Texto fictício para a aula de redação da minha escola*
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