- A gente se precisa, não tem jeito.
- Não houve um dia sequer que eu duvidasse disso, Melissa, mas acho que não convivemos tão bem quanto fazíamos no início.
A verdade as vezes é arrebatadora, mas necessária para que possamos acordar para uma realidade que, por vezes, pensamos poder manipular. Olhando para Cássio naquela noite, sob as estrelas, eu soube que já não éramos mais os mesmos, mas a quem poderia caber toda a culpa? Não acho justo culpá-lo por um erro que também foi meu, assim como não acho justo que a culpa caia toda sobre mim, porque não errei sozinha.
Nosso relacionamento, simplesmente, aos poucos se desfez. Como as dunas mudam de lugar, os sentimentos também mudam, com uma rapidez que muitos considerariam impossível. Mas nós, que sabemos as frequências em que vibramos, nós que vivemos intensamente cada instante, sabemos que as coisas mudam e desde o início estivemos cientes disso.
- Você sabe, Melissa, há meses não somos mais aquele casal quente, que desperta o melhor das pessoas. Estamos brigando muito, nos desentendemos com uma frequência anormal. Eu... eu gosto de estar contigo, você sabe, mas como é que posso ficar tranquilo se não sei o que posso esperar de você dois minutos depois de dizer que me ama? Você me entende? Entende que estou inseguro por nós?
Eu quis só assentir, mas achei que não cabia ao momento. Ali, ele esperava uma reação minha, uma resposta às suas indagações. Eu verdadeiramente queria responde-lo, mas, será que as minhas palavras seriam suficiente sábias para tanto?
- Sinceramente, Cássio, eu não acho que seja a única responsável por isso. Você sabe muito bem o quão revoltada eu ficava quando você saia cedo aqui de casa e ia andar na sua moto ridícula. Eu fingia que entendia, mas, na verdade, eu nunca soube muito sobre suas saidinhas. Eu não quero que me entenda mal, você sabe o quanto sou apegada a você e, de repente, seja só isso: apego. Quem sabe, se a gente não conviver mais, eu deixo de sentir tua falta, eu me acostumo com a tua ausência. E acho que isso seria muito bom. Poder rever amigos que há tempos não vejo, tomar um uísque com meus colegas da faculdade, curtir o colo da minha mãe nos finais de tarde. Eu acredito que seja disso que nós precisamos.
Ele olhou-me com calma e, por dois minutos, refletiu o que eu havia dito. Eu soube que entendeu o que aquelas palavras significavam, quando, em um olhar complacente, ele assentiu. Sem pronunciar mais um "a", pegou as minhas mãos e beijou-as. Eu ia pronunciar algo, mas sua boca tão logo encaixou-se na minha, calou-me.
Se soubesse que beijos de Adeus eram realmente tão intensos, sutis e apaixonantes, teria dito adeus mais vezes, mesmo que me machucasse. Não é masoquismo meu, é só... uma vontade louca de sentir o afeto que me dedicam, mas que por vezes, oculta-se pela rotina, pela certeza do amanhã, que na verdade não há.
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