sábado, janeiro 25, 2014

Filme da madrugada - "Educação" (An education)

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Tenho uma mania bem desagradável - ou talvez não - de assistir filmes de madrugada. Sou daquelas pessoas que têm uma dificuldade enorme pra dormer e por estudar a noite me sinto mais ativa nesse período. Portanto... adaptei quase todas as minhas necessidades/atividades para esse período do dia (ou período da noite, anyway). Essa madrugada eu decidi virar direto (ou seja, não dormir) porque meu metabolismo está bem louco, então, assisti dois filmes e um deles é o "Educação". 
Eu já o havia visto, em 2010. Lembro de ter gostado muito, mas não o tinha analisado com olhos mais críticos, lendo-o nas entrelinhas. Preciso dar essa segunda oportunidade para alguns outros filmes que vi na mesma época mas que não dei lá muita chance de ser considerado como bom. OK. Let's go.
Sinopse: Jenny Carey (Carey Mulligan) tem 16 anos e vive com a família no subúrbio londrino em 1961. Inteligente e bela, sofre com o tédio de seus dias de adolescente e aguarda impacientemente a chegada da vida adulta. Seus pais alimentam o sonho de que ela vá estudar em Oxford, mas a moça se vê atraída por um outro tipo de vida. Quando conhece David (Peter Sarsgaard), homem charmoso e cosmopolita de trinta e poucos anos, vê um mundo novo se abrir diante de si. Ele a leva a concertos de música clássica, a leilões de arte, e a faz descobrir o glamour da noite, deixando-a em um dilema entre a educação formal e o aprendizado da vida. (Adoro Cinema)
 
Se eu der alguns spoilers, me perdoem, é que eu meio que não sei resenhar sem falar da obra em si.


Educação trata-se de um drama, onde uma jovem londrina com alma francesa se vê presa numa vida entediante e padronizada, frequenta uma escolar rígida e se destaca como aluna, tirando notas excelentes em Literatura, mas padecendo no Latim, que é o único obstáculo no seu caminho no que diz respeito a admissão em Oxford, tão sonhada por seu pai Jack. Toca violoncelo em uma orquestra local e tem duas amigas que vão com ela para todo lado. Ela conhece David em um dia chuvoso, ele a dá carona até em casa e se mostra engraçado e prestativo. O pai de Jenny se encanta com David e com o quão bem relacionado ele é, e costumeiramente, David enrola Jack e leva Jenny para algumas "aventuras". A guria fica encantada com o que o mundo que David a apresenta pode oferecer. Jantares, bares, ocasiõs que ela jamais imaginou vivenciar e diante disso, começa a se desviar dos caminhos que antes seguia à risca. Jenny mata aulas, mente para os pais e deixa de se dedicar aos estudos para se tornar a "namorada" de David. Os fatos que ela descobre sobre ele são o que dão a sequência ao filme.


É interessante pensar em Jenny como uma adolescente dos dias de hoje (apesar de a ambientação do filme se dar em meados dos anos sessenta, acredito, os jovens não mudam tanto assim com o decorrer dos anos. Ou, pelo menos não os seus anseios) que só quer se ver livre das rédeas da família e ser adulta logo. Porém, por mais que ela seja até bastante madura para seus 16 anos, não soube como lidar com as escolhas que tem diante de si: seguir a educação de seus pais ou aproveitar os prazeres da vida? Jenny fez uma escolha ruim, contudo, pôde voltar atrás (com ajuda de sua professora de literature inglesa) e retomar sua vida do ponto que havia feito a má escolha. Jenny teve um bom fim, mas, é cinema, certo? E cinema nem sempre é realista nesses aspectos.


Os cenários são lindos, a fotografia do filme é de tirar o fõlego, a trilha sonora é bem legal e a escolha para o elenco foi bem interessante. Carey Mulligan recebeu um Oscar de melhor atriz por sua atuação em Educação e eu fiquei bem surpresa com Peter, que apesar de não se expresser tanto no filme chegando até a parecer meio bobão, diria eu (prefiro pensar que na verdade, o personagem dele é que era um bobão completo, você irá concordar comigo caso assista o filme) tem uma desenvoltura bem interessante.


(As imagens do post são desta resenha aqui, que, alias, é ótima! E aqui você encontra a lista da trilha sonora)

domingo, janeiro 19, 2014

Sobre os tropeços que a vida dá


As mãos que me acariciavam docemente as costas me provocando deliciosos arrepios e arrancando suspiros, faziam parte do conjunto corporal cujos olhos me encararam firmemente enquanto nossos peitos moviam-se verticalmente em um mesmo compasso. Agora, nos encontrávamos deitados lado a lado, vestindo pouco ou quase nada, momentos após nossos corpos terem nos proporcionado incríveis sensações. De olhos fechados, eu procurava admirar a lembrança daqueles instantes, quando seus olhos me encaravam com um fervor inquestionável, um desejo que fugia dos controles das nossas mãos. Aqueles negros olhos que escondem mais coisas do que eu jamais serei capaz de imaginar eram os mais profundos que eu já havia visto e que penetravam minha alma e acendiam em mim sentimentos impossíveis de serem verbalizados.

As noites eram curtas ao lado dele e nunca bastavam. Os dias, por sua vez, tinham a quantidade de um pequeno infinito de teimosos minutos que custavam a passar. A cada reencontro, a cada beijo de “olá”, ela se questionava sobre como é que haviam chegado a esse ponto, a essa intimidade e necessidade mútua dos carinhos e da presença um do outro.

Houve um tempo em que ela, Laura, não tinha tempo e nem cabeça para pensar em paixões como essa que agora vivia junto com Antônio. Ela julgava as aventuras românticas de natureza incerta como falhas e duvidosas, mas com ele, foi capaz de compreender que o bem-estar de se estar bem valia mais do que a consciência que pesava sobre si. Os valores que tanto cultivava tiveram de ser deixados de lado por alguns curtos momentos, de modo a fazê-la viver, no mais pleno sentido do verbo. Há muito ela não se aventurava, não cometia loucuras, se é que algum dia havia cometido alguma que valesse a pena ser ressaltada.

- Você sabe que somos efêmeros, não sabe? – a volatilidade da natureza de seus sentimentos era tema recorrente na mente de Laura, que desconfiava ser o único ser pensante da relação, a que procurava arriscar menos, apesar de querer se jogar de cabeça naquilo que lhe enlouquecia: o relacionamento com Antônio. 

- Somos? 

A falta de noção dele com relação à natureza da convivência romântica de ambos dava-lhe nos nervos. Ou ele era realmente ignorante ou tinha optado por ignorar a situação. Ela desconfiava da segunda hipótese. De bobo, o rapaz nada tinha.

- Sabes muito bem que sim. Não entendo o porquê de recusar-se a aceitar esse fato. 

- Laura, eu não me recuso a nada, não quando estou do seu lado. Simplesmente não vejo a menor necessidade de questionarmos os fatos, de alterar a ordem de uma expressão que está perfeita da forma que é. – Homens. Insistem em comparar sentimentos com ciências exatas. Será que vocês não poderiam, por favor, ser um pouco mais sensíveis às questões humanas e românticas da situação? 

- Eu não quero discutir, amor, não mesmo. Eu sempre faço isso... sempre penso demais, peso demais, comparo demais. – ela ponderou por alguns segundos, e acrescentou, de forma dramática – Eu realmente não entendo como é que você consegue gostar tanto da minha presença mesmo eu tendo esses surtos de consciência.

Surtos esses que eram realmente freqüentes, coisa que ela desejava que não fossem. Ela tinha absoluta ciência dos fatos e dos rumos que aqueles encontros furtivos iriam tomar, mas ainda assim, não fez nada para mudar. Deixou que a água passasse por baixo da ponte quando o que deveria ter feito era represá-la. Essas incoerências com sua conduta normal só a fazia questionar ainda mais seus valores e o que ela tinha se tornado. Uma qualquer? Uma “dessas”? Ela não desejava isso, de forma alguma, mas o momento de interromper aqueles encontros havia puramente desaparecido. Laura não conseguia imaginar esse diálogo, não sabia as palavras certas pra usar, nem o momento certo de pronunciá-las, portanto, tinha decidido que as coisas se manteriam como sempre foram e – possivelmente – sempre seriam, para seu total desgosto.

- Vem, deixa eu fazer carinho em você, te dar cafuné e lembranças felizes.

E com isso, ela se entregava. Não havia contra quem lutar ao não ser ela mesma. Mas aquela batalha já estava ganha e o vencedor declarado não era ela. Sua derrota estava estampada no sorriso em seu rosto: sim, eu vou para os teus braços, eu sempre vou.

O conforto daquele abraço não é coisa de gibi. O corpo dele era mais confortável e adaptado a ela do que o de qualquer outro jamais se aproximou de ser e isso a assustava, fazendo com que seus pesares voltassem à superfície da mente. Suas questões e seus valores estavam sempre ali, a espreita, prontos para emergirem quando qualquer brecha fosse aberta, para fazê-la enlouquecer com tantas dúvidas.

O intenso fluxo de pensamentos logo a fazia pegar no sono, a cadência da respiração dele era a melhor canção de ninar que ela já ouvira e se concentrar naqueles leves suspiros a fazia entrar em um mundo que só pertencia a ela: seus sonhos.

Especialmente naquela madrugada ao despertar com breve lampejo de suas responsabilidades, olhou no relógio para conferir o tempo que estivera fora do ar. Ela não se permitia dividir a cama com ele por uma noite inteira, ou então, as coisas fugiriam do seu controle. O marcador digital do relógio indicava 4:48 da manhã. Ela iria para casa, dormiria até as sete e meia e as nove precisaria estar em seu escritório, apresentável e exibindo uma postura digna do renome que carregava. O primeiro cliente estava agendado para as 9:15, com um caso de divórcio litigioso que exigiria dela grande concentração e poder de persuasão diante da corte.

Laura tomou cuidado para se desvencilhar dos braços dele sem causar barulhos ou movimentos bruscos demais. Sempre que Antônio despertava e a via juntando suas coisas, ela acabava por se atrasar. Ele havia despertado levemente e observava-a enquanto vestia o jeans e a camiseta da noite anterior. Permaneceu quieto e quando ela se virou para enviar-lhe um beijo com a ajuda das correntes de ar, notou o olhar incisivo dele. Um sorriso lhe saltou aos olhos por vê-lo com aquela cara de sono de quem havia tido uma noite maravilhosa e ela teve de se aproximar da cama para dar-lhe um bom dia mais condizente com seus sentimentos.

- Anseio pelo dia que você vai acordar do meu lado na metade da tarde. – ele sorriu e piscou demoradamente, tornando suas feições ainda mais suaves e doces.

Ela depositou um beijo em seus lábios e disse que a decisão cabia pura e tão somente a ele. Que as escolhas e o rumo que seu relacionamento tomaria era dele e só. Que em nada lhe cabia aquela decisão.

O cenho dele franziu em resposta. Toda aquela responsabilidade que ela sempre lhe incumbia o deixava catatônico. Ele sabia que, de fato, a decisão de estar com ela por um período mais apresentável de horas do que das nove da noite até, no máximo, as seis da manhã era de sua exclusiva alçada. Mas lhe faltava fôlego para decidir, para dialogar, sobrepesar, e, sobretudo, lhe faltava fôlego para permitir que uma pessoa que lhe fora cara por tanto tempo deixasse sua vida de modo tão brusco.

- Sei que é minha decisão. Mas, no auge da minha canalhice e do meu egoísmo, não consigo ficar sem nenhuma de vocês duas.

Aquilo sempre a ultrajava. E sua feição fazia o favor de expressar aquilo. No exato momento que ele iniciou a pronunciar a palavra “duas”, seus olhos verdes adquiriram uma profundidade quase odiosa.

Ela não se permitia sentir ódio pela terceira pessoa que havia sido imposta ao relacionamento dela com Antônio. E, aliás, se punia a cada bom momento com ele por saber que aqueles instantes não a pertenciam. A única coisa que ela levava daqueles encontros furtivos com seu amante era o sorriso que o próprio rosto estampava diante da lembrança da presença dele e do prazer que ele obtinha quando em sua companhia. O ódio que ela sentia, por sua vez, provinha da sua indiferença com o sentimento alheio. Ela se permitia ter culpa em algumas situações, mas não permitia que a culpa lhe inundasse e a fizesse tomar a decisão que precisava: causar o rompimento do seu romance com Antônio. Havia outra pessoa no jogo, outro vértice do triângulo amoroso em que ela estava envolvida, e ela não gostava da idéia de pensar em fazer alguém sofrer por sua culpa, de trair alguém ou de causar uma traição... mas já fazia um tempo desde que tomara a decisão de primar pela sua felicidade e não pela lógica do mundo lá fora.

Ele entendeu, de súbito, que havia pisado em ovos e que as palavras haviam excedido o limite do aceitável entre ambos. Tocar naquele assunto sempre a fazia congelar e ele sabia que naqueles momentos, a única coisa que Laura sentia por ele era repulsa.

- Eu... sinto muito. Sinto muito mesmo. Sei que tem coisas que não devo dizer, não devo verbalizar... – Antonio foi interrompido antes de terminar sua súplica por desculpas.

- Têm coisas que você nunca deveria ter feito, Antônio. Decisões que você nunca deveria ter tomado. Escolhas que nunca deveriam nem mesmo terem sido cogitadas, caso seu caráter fosse algo pelo menos próximo do considerado como “digno” ou “honesto”.

Quando tocada pelas palavras erradas, Laura tornava-se cruel. Essa habilidade nata havia feito-a ganhar muitas causas nos tribunais. Enquanto seus clientes eram acusados – ou mesmo quando ela precisava acusar alguém – haviam palavras que despertavam na jovem porém experiente advogada, uma espécie de válvula de auto-defesa e ela se tornava uma leoa defendendo suas crias. Esse instinto nunca a tinha decepcionado. Ela sabia que havia certas palavras que eram responsáveis por causar aquele efeito nela, mas jamais sabia desde quando aquele talento se tornara parte de quem ela era como profissional – e em situações como essa, como amante.

 Os olhos de Antônio estavam focados nela, arregalados, para se ser mais fiel aos fatos. Laura havia acionado nele uma espécie de ultraje, de espanto, e entendia as reações que viriam a seguir.

- Você me considera indigno ou desonesto, mas se esquece de que corrobora para as minhas traições, de que sem você, eu seria fiel à ela...

- Não Antônio, você não conseguiria ser fiel a ela nem que tivesse a ponta de uma espada posicionada contra o seu peito, simplesmente porque você não a ama o suficiente para permanecer do lado dela qualquer que seja a situação. Você sabe por que a trai, não sabe? Você trai a Manuela simplesmente porque não consegue lidar com o que o relacionamento de vocês se tornou. Você não consegue lidar com a monotonia. Não entende os motivos que fazem alguém querer permanecer por tanto tempo ao lado de uma pessoa só. Você não sabe distinguir um simples “trepar” com um ”fazer amor”, simplesmente porque você não consegue amar, não consegue... – a voz falhou, os olhos já marejados ferveram com uma raiva e uma paixão que a enlouqueciam e, por um breve momento, algumas lágrimas fugiram do seu controle e assumiram o poder que a gravidade lhes impunha, caindo com todo o peso que lhes cabia pelas maças do rosto de Laura – Você não consegue admitir que não é feliz ao lado dela, não mais. Que vocês se desgastaram com todo esse tempo... Você não quer “largar do osso” porque sabe que com ela tem sexo garantido, tem um status de relacionamento e alguém para levar pra casa nos feriados e apresentar pros teus pais como sendo sua namorada. Você sabe que é assim. – a voz embargada se tornou quase inaudível conforme as palavras foram lhe saindo da boca como uma cachoeira em seu volume máximo de água e quando ela se aproximou do fim de seu discurso, sua voz não passava de um sussurro choroso.

A essa altura, Antônio se encontrava sentado na beirada da cama, com os dedos permeando o cabelo e os cotovelos apoiados sobre os joelhos. Ele não soube o que dizer, mas imaginou que aquela cena toda poderia ter um fim se ele se levantasse dali e fosse até a porta do quarto para onde ela havia se dirigido quando percebeu o rumo que as coisas haviam tomado e a abraçasse.

Foi o que ele fez e, a principio, a reação dela foi exatamente a que ele imaginou. Laura o abraçou também, encostou a cabeça em seu peito e chorou.

Ele começou a murmurar palavras doces, como que para fazê-la parar de chorar, pedindo suavemente para que ela se acalmasse enquanto misturava tudo isso com pedidos de desculpa por ter provocado tudo aquilo.

O que ela fez logo em seguida foi que o surpreendeu.

Como que por mágica, ela se desvencilhou de seus braços, pegou seus pertences e em um giro de 180 graus, tomou frente à porta e saiu. Assim. Sem nada lhe dizer, sem aceitar os pedidos de desculpa dele ou mesmo dizer que voltaria a noite para que pudessem esclarecer as coisas. Laura simplesmente havia saído do recinto, levando consigo uma parte dele que nem mesmo ele tinha ciência da existência.

A dor da decisão que ela havia tomado durantes aqueles últimos momentos nos braços dele, causada pelas verdades que enfim ela tinha tido coragem de pronunciar, ia com ela porta afora. Aquele peso que ela havia adquirido a faria lembrar-se de todos os porquês de ter feito o que fez: de ter abandonado Antônio de uma vez por todas.

Seu Honda Civic a esperava em frente ao prédio em que ele morava. Entrou no carro e deixou que as lágrimas rolassem pelo seu rosto, ficando ali por mais tempo do que seria necessário.

Antônio a observava da janela de seu quarto, no quinto andar, notando no peito um sentimento de perda e uma intensa vontade de gritar, implorando para que ela voltasse para o quinto andar... para o quarto dele... para a vida dele. Mas, depois do que lhe pareceu serem apenas alguns minutos, ela deu partida e saiu dali, decidida a não mais voltar enquanto o estado civil e o caráter dele não estivessem bem resolvidos.

Ela tornou a pensar no que ele disse sobre ela também ser culpada sobre as traições dele e pela primeira vez, se permitiu sentir culpa, fazendo com que algo sem precedentes lhe tomasse o peito. Esforçou-se para manter os olhos limpos de lágrimas até que estivesse adentrando a garagem de seu próprio edifício, tentando assim evitar qualquer acidente ou problema. Porém, ao estacionar na vaga que lhe cabia, seus olhos começaram a arder novamente, dando indícios de que ela ainda era capaz de chorar antes de estar desidratada e delirante.

Tomou o elevador e pressionou o botão de seu andar por instinto, torcendo para ter acertado. Sentiu grande alívio quando o elevador parou e ao abrir as portas, viu que estava no seu andar. Foi até sua porta e a abriu, com mais empecilhos do que haveria encontrado em uma situação normal. Entrou, colocou as chaves no aparador de forma metódica, deixou a bolsa em cima do sofá sem nem se incomodar de tirar seu celular lá de dentro - ela não queria ser incomodada por o que quer que fosse, mensagens de texto ou ligações, de quem quer que fosse, mas em especial, dele. 

Tomou o cuidado de retirar o que lhe restava da maquiagem borrada e tirou a roupa que tinha usado para encontrar Antônio. Tinha o cheiro dele. Seu cardigã. Sua camiseta de algodão. Sua calça jeans. Seu corpo. Toda a sua mente se inebriou com aquele cheiro e ela se deixou levar por aquilo, apenas por um breve instante. Tornou a si quando entrou em baixo da água morna, livrando-se de qualquer traço de suor dele, qualquer resquício do cheiro daquele homem. Apenas por hoje, ela não precisava lembrar de tudo o que viveram (nem de hoje e nem dos demais dias).

A água trazia um calor que seu corpo agradecia. Suas mãos lavavam-lhe o corpo e a alma com sabonete líquido de orquídeas brancas e ela se focava somente na imagem de tão belas flores deixando um aroma dos deuses pelo seu corpo.

Passados alguns minutos, abandonou a ternura de seu banho e vestiu um pijama de algodão, que lhe traria uma dose extra de conforto e uma sensação de aconchego, de bem-estar. Seus lençóis claros traziam a lembrança do paraíso e ela se parabenizava mentalmente por estar conseguindo se distrair com coisas tão fúteis e randômicas, punindo-se simultaneamente por ser tão fútil e sem foco.

Aconchegou-se aos poucos e procurou relaxar seu corpo, parte por parte, mentalizando seus músculos e movendo esforços para não pensar em nada que não fosse aquilo. Quando sentiu-se relaxada o suficiente, virou para o lado, mirou o relógio: 6:32 da manhã. Uma hora de sono. Que ótimo!

7:49 da manhã. Atrasada. Puta que o pariu, literalmente!

Sua vontade de ir trabalhar era zero. Seu humor nem deveria ser mencionado. Mas mesmo assim, foi. Porque quando se é adulto algumas convenções devem ser respeitadas, e ir trabalhar a cada santo dia era essencial para o bom funcionamento da máquina mortífera que chamamos de sociedade. Seu cliente das 9:15, o caso da separação em caráter litigioso era a última coisa que ela queria àquelas alturas. O homem declarava que sua mulher o havia traído. "Sério, universo, é isso que você tem pra mim hoje?" Ela estava se esforçando, a autora admite, mas nada lhe favorecia. Cada palavra dita pelo cliente das 9:15 fazia com que ela se sentisse culpada pelo relacionamento estranho que tinha tido com Antônio. Ela podia visualizar Manuela no lugar do cliente, reclamando sobre seu marido que a traia desde que eram simples namorados.

Era tudo o que Laura precisava!

Ela não conseguiu assumir o caso. Disse para o cliente para que procurasse o Dr. Azevedo, seu colega de faculdade, especialista em casos do gênero e lhe pediu desculpas. Ela não seria capaz de lidar com algo daquela natureza, não nessa situação em que se encontrava.

Laura precisava admitir: Antônio a afetava deste tanto.

Ela permitiu que um cliente em potencial procurasse outro advogado simplesmente porque não conseguiria lidar com a realidade dos fatos que teria que defender. Seria um tanto hipócrita de sua parte acusar alguém de adultério perante os tribunais sendo que ela era o possível pivô de uma separação (menos dramática, ela esperava, caso esta fosse existir algum dia e caso fosse por responsabilidade dela).

Fato este que era bastante impossível, ela tinha que admitir. As “verdades” que ela havia dito a Antônio eram verdadeiramente isso, na mais ampla vastidão semântica: verdades. Inconscientemente, ela tinha ciência de que ele não moveria uma palha para alterar sua vidinha mais ou menos em qualquer aspecto que fosse. Comodismo o definia, mas era antítese nesse aspecto, uma vez que não suportava a monotonia do relacionamento com Manuela. Rapaz complicado esse Antônio.

Na hora do almoço ela recebeu uma mensagem de texto:
“Você vem aqui pra casa hoje a noite, não vem?”
Com muito lirismo, ela pensou: “que audácia!”. Respondeu no mesmo instante:
“Não.”
A resposta veio em alguns segundos:
“OK. Podemos nos encontrar em algum outro lugar pra conversar e colocar os pingos nos ‘is’ então?”
Não seria má ideia. Havia muitos ‘is’ que ela não tinha botado pingos entre eles.
“No Romero, às 21:00.”
Ele respondeu no ato:
“OK. Te espero. Beijos, linda.”
Galanteador ao extremo, mesmo em situações inoportunas. Tantos “OK” deveriam ser interpretados como conformismo? Ou será que ela deveria parar de interpretar as mensagens de texto, que pouco tinham a ser interpretadas, que não o que estava explícito? Essa mania de ver pelo em ovo ainda a faria meter os pés pelas mãos.

Expediente tranquilo, ela diria. Poucas pendências para serem resolvidas, questões relacionadas ao departamento jurídico da sua empresa, em maioria. As 17:00 ela já estava liberada. Passou em um salão de beleza que costumava frequentar, fez as unhas, pintou-as de vermelho, cortou um pouco as pontas dos cabelos e fez uma escova. Nenhuma superprodução, mas já apresentava uma melhora sutil no seu semblante de quem chorara na noite anterior.

As 19:45h ela entrou no elevador. Chegou ao seu apartamento, tomou um banho morno, lavou o rosto com um sabonete especial e o corpo com o sabonete líquido de orquídeas brancas e era capaz de sentir o aroma suave e a sensação suave que ele deixava em sua pele. Depois de poucos minutos, já estava enxuta e em frente ao seu closet, escolhendo algo simples, mas sexy para o jantar esclarecedor que teria dali a exatos 42 minutos. Optou por um vestido azul marinho, longo, que lhe caia suavemente sobre o corpo. Pouco decotado na frente, mas aberto na maioria das costas. Acho que essa era a medida exata de sensualidade para o momento. Sandálias de salto Anabela em um tom marfim, com poucos pontos de brilho, uma bolsa da mesma cor. Uma pulseira dourada, argolas nas orelhas. Maquiagem suave, mas notável. Olhou-se no espelho e admirou o resultado de suas escolhas. A feição que Laura exibia também era resultado de suas escolhas: uma serenidade perene de quem tinha certeza de seus atos e que não poderia ser dissuadida.

Chegou alguns minutos atrasada e teve dificuldade para estacionar. Era o horário de pico do Romero, e ela sabia disso. Não era que quisesse plateia para o espetáculo, apenas precisava de pessoas presentes para lembrar-lhe de não se exaltar, de não deixar que os fatos lhe fugissem do controle.

Ele estava em uma mesa um pouco mais reservada, ao fundo, com duas taças – uma cheia e outra vazia, a sua espera – na mesa. Ela sorriu e se sentou, evitando o beijo que ele quis lhe dar. Surpreso com a frieza das atitudes dela, ele notou que a noite seria de muita conversa.

- Como foi seu dia? – Ele questionou, fazendo uso convencional da função fática.

- Pouco proveitoso, e o seu? – disse ela, tomando cuidado de ser inexpressiva em suas palavras.

- Ah, normal, como sempre. – Antônio não sabia como levar aquela conversa, então, preferiu ir por um caminho mais fácil. – Vamos fazer o pedido já? O que você vai querer?

- Uma salada e um filé de peixe grelhado, por favor.

Ele chamou o maître e disse-lhe o que queriam.

A conversa foi superficial. Falaram do vinho, do movimento do restaurante, do trânsito para chegar até ali, e demais amenidades. Quando os pratos chegaram, jantaram em silêncio. Trouxeram a sobremesa – creme de papaya com licor de cássis – que eles comeram em silêncio também. Falaram mais algumas amenidades, sobre como o jantar estava delicioso e do sabor da sobremesa. Já eram 22:55 quando ele sugeriu pagar a conta e irem. Foi então que ela percebeu o que aconteceria depois, caso ela não tomasse coragem e dissesse o que planejou mentalmente durante todo o dia.

- Antônio, será que eu posso te dizer umas coisinhas antes de irmos? – um pequeno traço de indecisão cruzou seus olhos, mas a forte mulher que habitava naquele corpo não permitiria que esse pequenino porém lhe impedisse de dizer as coisas que ela precisava dizer.

Ele apenas assentiu, respirando profundamente, como quem diz “despeja logo tudo isso que te trava o peito”.

- Eu pensei muito durante todo o dia... pensei no que te disse essa manhã, no que nós somos, no que poderíamos ser, pensei mais do que achei ser capaz de pensar sobre um único assunto. E, bem, acho que cheguei a uma conclusão. Eu decidi que os nossos encontros findam hoje. Que esse jantar foi a última vez que nos vimos e compartilhamos algo enquanto “amantes” – pronunciou essa última palavra meio que entredentes, quase que com medo de que alguém a ouvisse. – Sinto muito por termos levado isso tão adiante, quando deveríamos ter parado logo no início, ou melhor... nem ter dado início a isso.

- Com isso você se refere a que, Laura? Ao nosso relacionamento? Acha que fomos tão pouco que podemos ser resumidos a “isso”?

- Acho, Antônio. Acho que fomos fracos e sucumbimos um ao outro, mas espero que possamos ser fortes e encarar toda essa situação com maturidade...

- Sim, maturidade. Mas não sei se sou bem eu que estou sendo imaturo, Laura. Acho que você está se precipitando, tomando decisões sem pesar direito os dois lados da moeda. Entendo que você esteja se sentindo mal pelo que vivemos, mas quero que saiba que tomei atitudes para mudar isso, porém, você tá claramente me descartando...

- Não, Antônio, é você quem sempre me descarta. Eu não gosto de me sentir limitada e contigo as coisas são sempre limitadas, sempre “até certo ponto”, sempre ocultas... eu não quero ter que lidar com isso o resto da minha vida, entende? Quero mais pra mim e é isso que eu estou fazendo quando te digo que não vamos mais ficar juntos: estou tentando extrair mais das minhas noites do que paixão. Estou me dispondo a buscar um companheiro pra vida, não apenas pra relações amorosas eventuais. Entende? Eu sou jovem ainda... tenho chance de encontrar uma pessoa legal e sei lá, ter uma família, quem sabe? Não... não me prive disso, por favor.

- E quem disse que não quero ser esse cara na sua vida? Que não quero ter família contigo? Poxa, Laura, estamos a mais de um ano compartilhando momentos e...

-Você tocou onde eu queria chegar. MAIS DE UM ANO. Você tem noção do que tá dizendo? Durante um ano eu fui cúmplice das tuas traições. Um ano, Antônio, que você deixa a Manuela em casa e me liga. Tá certo isso?

- Não importa se é certo ou não, importa é que somos nós, amor, sempre fomos nós, você sabe.

- Nós três. Eu e você e a Manuela.

- Ela não conta, amor, não mais...

- Não? Engraçado, porque achei que era com ela que você passava os natais e os réveillons na praia.

Ele se calou, sua expressão tomou ares de mistério, depois de culpa e então, se rendeu.

- Não preciso mais viver dessa forma, Antônio. Eu posso ter uma vida diferente, entende? Posso e quero! Não seja egoísta e me deixe ir, sem questionar mais nada, apenas ir, em frente, sabe?

- Laura, eu amo você e sabes muito bem disso. E é por isso que eu estou desse jeito, destruído por dentro por saber que não posso te fazer tão feliz quando tu mereces ser. Eu acabei me acomodando com a Manu, não sabia como desfazer esse vínculo, assim como não consigo quebrar a ligação que a gente tem e que vai muito além de cama, de sexo, de “trepadas” como você disse essa manhã. Contigo é amor, é sempre amor. Não é só pra satisfação física, é elevação emocional pra mim também, é comunhão espiritual, é muita coisa... menos puramente questões físicas. Eu te quero por perto porque fico melhor quando estou contigo. Entende? É confuso, é egoísta, mas é assim que eu vejo! Eu soube que isso aconteceria essa noite, então, comprei essa pulseira pra você... – uma caixinha quadrada de uns 10 centímetros de lateral apareceu em cima da mesa. Quando ele abriu, vi uma corrente curta, pouco maior que a circunferência de um punho, dourada com pérolas negras. – eu espero que você goste, use e lembre de mim. Esse presente é meu modo de dizer que te amei, mas que estou te deixando livre e me libertando também. Eu terminei com a Manu hoje à tarde. Chamei ela pra conversar lá em casa e disse que não podia levai aquilo adiante sendo que não a amava mais, que não me sentia mais próximo a ela. Achei que ela reagiria mal, mas ela foi condescendente, disse que já esperava por isso. Ela desejou sorte com a outra pessoa da minha vida, confessou que já sabia há um tempo, mas que não podia reagir a isso, pois também tinha outra pessoa pra suprir o vazio que eu deixava na vida dela. Enfim, eu estou resignado a tua decisão, mas quero que saiba e compreenda que estou saindo sem nada daqui hoje. Sem você, sem a Manu, que hoje descobri não ser minha já faz tempo, sem alguém que me ame. Consequência dos meus atos creio eu. Mas, Laura, eu te amo e quero o melhor pra você. Só... – um brilho diferente nos olhos, uma lágrima presa no cantinho externo dos cílios teimando em querer se ver livre daquela prisão começou a seguir rumo as bochechas – só lembra de mim com carinho, tá? E usa essa pulseira sempre que puder. Sério, você fica linda com joias escuras e pérolas te valorizam muito, meu amor.

A expressão que o rosto da impassível advogada exibia era de perplexidade total. Primeiro ele aparece com uma joia linda numa caixinha de grife, depois conta que terminou com a Manuela e ainda termina todo o monólogo falando que só deseja o melhor e que está deixando-a livre? Os nós da mente de Laura já estavam pra lá de apertados, emaranhados, enrolados e todos os demais adjetivos que possam ser aplicados à metáfora. Nesse meio tempo – curtíssimo meio tempo -, ele secou aquela teimosa pequena lágrima, pôs o guardanapo que jazia em seu colo em cima da mesa e se levantou. Dirigiu-se ao lado oposto da mesa, beijou a testa de Laura, em um ato pra lá de afetuoso, e começou a se afastar.

A mente dela parou. E recomeçou a pensar de um novo ponto, como se tivesse dado um “reset” em tudo o que havia pensado antes, e decidido, e proferido. A única coisa que ela foi capaz de dizer foi um “espere!” meio sufocado. Ele pareceu não ouvir, então, mais do que depressa, ela se levantou e se dirigiu para a saída, por onde ele havia passado alguns momentos atrás. Na frente do restaurante, ela viu o Azera dele parado, com os faróis acesos, prestes a disparar rua abaixo. Correu como pode – como seu vestido longo e suas sandálias de salto a permitiram. O alcançou quando ele dava partida no carro, bem a tempo.

- Você não pode me falar tudo o que falou e simplesmente sair assim! – ela gritou, socando o vidro do passageiro, esperando que ele abrisse.

E quando o fez, ela tentou se recompor, parecer digna do da carteirinha da OAB que possuía. Conseguiu. Ele respirou fundo e iniciou um novo monólogo.

- Eu não sei quanto mais eu consigo ouvir, Laura. Eu entendo que sou um cara horrível, um bígamo, pode até se dizer. Mas eu tentei fazer felizes as duas pessoas a quem eu amava. Uma delas, que ainda amo e que quase quebrou o vidro do meu carro, aliás. Mas não sei se obtive êxito, não sei se te fiz tão feliz e tão bem quanto eu imaginava. Não sei, também, o quão feliz a Manuela era, ou o quão decepcionada e frustrada eu a deixei. O que importa, é que enfim decidi que rumo tomar da minha vida. O fato é que – foi necessário que ele fizesse uma pausa breve para escolher as palavras corretas – a mulher que eu acabei escolhendo, não quer me escolher porque me acha pouco digno e de caráter duvidoso. Eu entendo e assumo algumas falhas da minha personalidade e se você quiser achar que sou o pior homem da face da Terra ou de todo o Universo, ok, não vou poder fazer nada além de tentar mudar sua concepção, me tornando o homem que você quer e precisa ter do seu lado. Não sei quanto tempo isso pode demorar, nem se vou conseguir fazer isso, mas por você, eu tento meu amor, tento de tudo pra te ter do meu lado por mais tempo, por mais noites e dias e finais de semana e feriados. Esse um ano e pouco que te tive na minha vida foram pouco, te quero mais e diferente do que te tive até agora... porém, sei que você não me acha merecedor de estar do teu lado. Então, estou deixando o caminho livre, o livro aberto e as próximas páginas em branco, pra você escrever da forma que quiser. Mas te deixo ainda te amando, e vou amar por muito tempo ainda, pode ter certeza.

Ela estava debruçada no carro, ouvindo tudo e chorando copiosamente, como se não soubesse onde desligar a torneira interna de seus olhos, como se as lágrimas fossem infinitas dentro de si. Ele sorriu e lhe enviou um beijo com a ajuda das correntes de ar, como ela costumava fazer sempre quando ia embora sorrateiramente e achava que ele ainda estava dormindo. Ela entendeu, e ficou ereta, desencostando-se do carro que seguiria rua abaixo apenas alguns segundos depois.

Laura entrou no seu próprio carro, com os olhos ardendo de tanto chorar e o rímel borrado até as bochechas. Recapitulou os fatos. Entendeu que, naquela noite, ela movera seus peões no tabuleiro, mas quem dera o cheque-mate, fora ele. Dirigiu até em casa, estacionou na garagem, subiu pelo elevador, abriu sua porta e desabou no sofá. Pegou o celular, era quase meia noite e ela tinha uma nova mensagem na caixa postal. Clicou para ouvir. A voz era velha conhecida sua:
“Amor, eu to dirigindo e falando ao telefone, violando as regras por você, como sempre fiz. Te deixei com o meu coração, espero que você cuide dele. Não sou nenhum Romeu e nem o melhor homem do mundo, mas te amo e espero que você saiba a decisão correta a tomar. Eu posso te fazer feliz, sendo só teu, ou pelo menos tentar. Mas você precisa permitir. Eu não estou mandando você ir, mas, caso achar que a gente ainda pode ser feliz junto, entra no teu carro e vai lá pra casa. Eu vou te esperar loucamente, Laura, angustiado sem saber da tua resposta. Vai, por mim, me deixa tentar... amo você, meu amor.” Você não possui mais nenhuma nova mensagem....
Ela desligou, pegou a bolsa como louca e trancou a porta atrás de si. Desceu o elevador com pressa, batendo os pés contra o piso para ver se o impulso fazia alguma diferença e a levava mais depressa até o subsolo. Saiu do elevador, abriu o carro e disparou rumo a casa dele.

Menos de dez minutos, quase um recorde.

Mais um elevador. Cinco andares. Mais batidinhas de pé. Uma porta de abrindo, uma campainha tocando, outra porta de abrindo e um sorriso enorme ao vê-la.

- Eu... eu não tinha certeza se você viria... eu achei que não mas eu esperava que sim... – lágrimas e uma mistura de beijos e carinhos, e abraços, e palavras afogadas em mais lágrimas, e sorrisos.

- Eu vim, eu amo você, e eu quero tentar. Mas você tem que me prometer que vai tentar também, que vai tentar ser fiel e que, se não for fiel, vai ser sincero e honesto, pelo menos, e me contar. Não vou conseguir suportar caso não for assim, Antônio, então me promete que vai tentar e que se não conseguir, vai ser honesto comigo, pelo menos, me promete, por favor. – o desespero e a necessidade da resposta dele estavam presentes a cada palavrinha que ela pronunciava.

- Eu vou, Laura, meu anjo, vou sim porque eu preciso de você por perto, preciso ter certeza que vou te ver de novo pra ter paz. E eu vou te ver de novo, não é? Todos os dias, de manhã e a noite, não vou? Me diz.... 

Meio sorrindo, meio afirmando, ela fez que sim com a cabeça, assentindo.

Naquela noite, ela dormiu ali. A noite toda. Não quis acordar de madrugada, pois sentiu que não precisava mais daquilo. Ela soube que se acordasse ali, ao lado dele, teria um sorriso e um abraço a esperando de manhã e eles fariam amor, porque ela agora sabia, tinha certeza... era amor.

Existem maus passos que se tornam corretos quando as atitudes necessárias são tomadas. Porém, é preciso que o impulso seja dado. De uma das partes, ou de ambas, como foi com Antônio e Laura. Mesmo que as forças sejam contrárias, e que cada um empurre em uma direção... haverá o movimento, a mudança e é essa a questão. Se algo não vai como deve, é preciso haver movimento, é preciso haver mudança. É bom que se saiba que ou bem se faz feliz uma pessoa só, ou acaba-se fazendo mal a si próprio e o pesar que uma coisa desse gênero pode trazer, afoga a alma em profunda confusão. Antônio e Laura geraram mudança e as decisões que decorreram disso lhes proporcionou alegrias intensas, assim como trouxe tristezas intensas também. Mas é disso que se trata a vida. Um ‘yng’ e ‘yang’ que dá ordem ao Cosmo, cargas opostas que se equilibram e proporcionam acontecimentos a todos. Casais não são formados por três pessoas e a utopia de que se pode levar isso adiante é exatamente o que é: uma utopia, uma distorção da realidade em favor de apenas um. O amor deve prevalecer, o mais forte deve ser levado em conta e se não me beneficiar, o que há de ser feito? Um adeus bem pronunciado é o que há de melhor para o momento.

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Adendo da autora: Esse conto representou muito pra mim. Foi escrito em partes, em madrugadas insones, onde a mente não se calava e a inspiração transbordava. Trata-se de um mix de experiências pessoais e boas leituras. Espero que gostem. (Lembrando que a escritora que habita em mim apenas descansa, em breves momentos, mas quando volta, sempre traz algo novo)

sábado, janeiro 04, 2014

Sobre ser uma arquitetanda

Pois bem, eu devia essa postagem a mim mesma. Desde o primeiro dia de aula na faculdade (14.02.2013) eu havia feito um lembrete mental de iniciar uma tag com o dia-a-dia de uma estudante universitária, especialmente estudantes universitários zoombies viciados em energético e chocolate que cursam Arquitetura e Urbanismo. O energético e o chocolate se fazem necessários em noite de entrega de Projeto Arquitetônico, não me entendam mal. Até o tal do TNT em cápsulas eu tomei esse ano (e me ajudou pra caramba, viu? Fica a dica)

Bom, as imagens falarão por mim. (Aliás, a qualidade das imagens não é lá essas coisas, perdoem-me) 
DESENHO PROJETIVO I 




MODELOS TRIDIMENSIONAIS 
Esse foi o primeiro exercício de tridimensionalidade que fizemos. Os poliedros foram feitos por nós com papel cartão colorido. A sala foi dividida em dois grupos e o objetivo era montar uma "obra" sendo que a que tivesse maior altura e forma, venceria. Como podem imaginar, sou do grupo da direita. :)