domingo, maio 24, 2020

de lua

Eu deixei meu coração 
no mundo das ideias. 

Lá, onde passarinho
canta risonho, barulhento
e sereno. 

Lá, onde borboleta
tem vôo livre e
percorre todo lugar. 

Lá, onde libélula
reflete o sol
nas asas coloridas. 

Lá, onde beija-flor
bate as asas rapidinho
e bebe do néctar. 

Eu deixei meu coração
no mundo das asas,
onde o ar é rarefeito
e costuma causar efeitos
devastadores
na minha consciência. 

Eu deixei meu coração
no mundo do fogo, 
onde o calor é pungente
e afugenta a solidão
dos dias mais frios
e das noites insones. 

Eu deixei meu coração
no mundo da terra,
onde o cheiro da chuva 
encontra abrigo
e de onde brotam
os mais eternos afetos.

Eu deixei meu coração
no mundo da água,
submerso em camadas
e correntes marítimas
que seguem seus fluxos
e direcionam a vida. 

Eu levei meu coração
ao mundo da lua,
e ali ele encontrou 
a mais perfeita residência. 
Encontrou suas emoções
e se despiu das suas certezas. 

A lua é dúvida, 
fragilidade e
leveza. 

A lua é acalento,
ternura e
vulnerabilidade. 

Na lua, me fiz mulher. 
Foi nela que meu coração
encontrou amparo.
Nos ciclos da lua,
meus amores florescem. 

Dos ciclos da lua,
sou feita. 
De lua em peixes, 
mística e intuitiva. 

"De lua", 
minha maior característica. 

sexta-feira, abril 10, 2020

essas frases são sobre ser brisa.

Leia ouvindo. Espero que faça sentido para você tanto quanto fez pra mim.  

Os ares de outono sempre me trazem algo.

Há tempos quando comecei a notar esse padrão, percebia que sempre vinha um quê de nostalgia, de ansiedade, de saudade.

Hoje, parei pra sentir... o arrepio na pele me mostrou serenidade. Paz de espirito. Completude. 

Não, eu não me findei. Sigo sendo obra inacabada, imperfeita, inconclusa. Sempre o serei. Mas... tem uma alegria aqui no fundo do meu peito me dizendo que vale a pena insistir, sorrir, alegrar, serenar.

Eu sigo respirando! Há muito já podia ter desistido. Evitaria muitas lágrimas, mas me privaria de muitos aprendizados. 

Eu sigo aprendendo, me sinto com sorte. A maioria dos meus sentimentos que julguei adormecidos, seguem comigo. Sigo colecionando memórias. Sigo causando impactos. Sigo sendo... eu mesma. Vivaz, fluída, suave. Brisa. 

Noto com prazer o céu se desfazer em tons alaranjados, rosados e arroxeados... A noite me traz o clarão da lua, que cega meus olhos para tudo o que me bloqueia. E me sinto livre. 

Abraço meus erros, abraço meus defeitos, abraço meu choro! Aprendi a abraçar e acolher para purgar. Ganhei força para carregar meu peso emocional, meu peso físico, minhas cicatrizes, minhas características, meus medos e minhas coragens. Ganhei força para assumir meus momentos insanos e insones, meus momentos extrovertidos e a quietude. Ganhei força para ser eu. 

Prometi a mim mesma, no fim do outono passado, que este ciclo seria de florescer. Eu sinto os botões brotarem, sinto o orvalho tocando a minha pele, sinto o carinho dos que cuidam das minhas mudas mas não me emudecem. 

Fiz do amargor dos dias ruins uma memória, pronta a ser consultada mas nunca explorada. 

Fiz do peito, jardim. Aprendi a cultivar. Aprendi a regar. Aprendi a esperar. 

Estou aprendendo a florescer. 

Em breve, irei florir. 

Sobre a matéria das nossas almas

"Seja qual for a matéria de que as nossas almas são feitas, a minha e a dele são iguais." (Emily Brontë, em 'O morro dos ventos uivantes')
É mais fácil ignorar a escuridão, do que abraça-la.  E eu confesso não ser tão corajosa. 
É mais fácil não pensar na tristeza, do que encarar o que entristece. Olhar a dor nos olhos. 
É mais fácil fingir plenitude, e ignorar toda a sensação de fracasso que brota do peito aos borbotões. 
Eu ignorei teu amor por anos, por sentir que tua dor era grande demais pra mim. Que teu fardo era pesado demais pra eu encarar. Que tuas feridas eram profundas demais pra mim. Eu ignorei as mesmas coisas em mim... minha dor, meu fardo, minhas feridas. 
Eu ignorei que sofri por anos e não olhei com carinho para essa dor. Eu senti uma insatisfação por todas essas centenas de dias que se passaram e não soube definir em que grau de frustração eles se encaixavam. Por não viver a vida que eu sonhei e mereci. Por não ter sido quem eu queria ser. Por ter me permitido acovardar em frente à todas as grandes mudanças que poderiam ter acontecido na minha vida. 
Eu queria ter podido ser transparente como tu és. Ter lidado com os meus lutos com coragem e ousadia, ao invés de guardar cada pequena porção de escuridão em minúsculas gavetas dentro do peito. 
Eu usei palavras boas e suaves em muitos momentos, quase que pra me fazer acreditar naquilo. Num positivismo tosco que Comte riria até que o ar lhe faltasse. Eu disfarcei minha raiva, e nas vezes que lhe permiti vazão, machuquei quem não merecia. Quando me calei, consenti para que fosse feito o que quisessem da minha vida. Eu me deixei ir por caminhos bem mais tortuosos do que deveria ter trilhado. E eu senti a dor disso tudo... no peito, calada, chorando com o rosto afundado no travesseiro em mais noites do que sou capaz de lembrar. 
Eu nunca soube como era o jeito certo de exteriorizar essa dor.
Até você aparecer e me mostrar, através da sua dor, que não é preciso guardar pra si. E, tentando curar a tua dor, eu encarei a minha. E busquei a minha cura. Olhei pra minha alma e vi pó de estrela. Vi brilho... Vi que a dor havia mantido isso intacto, a despeito da destruição. 
Eu olhei os meus anseios um a um. Percebi que o que esteve no passado, necessita ficar por lá. Que na dor, só se mexe para curar. 

terça-feira, março 24, 2020

Sobre como eu escolhi viver o amor

Eu vivi pulando de ilusão em ilusão, indo de um perfil de amor para outro, a procura de algo que eu nunca soube o que era. 
Eu sentia um vazio, uma necessidade de presença que eu nem permitia que fosse satisfeita. Ao menor sinal de bom relacionamento, já boicotava todo e qualquer contato como forma de me proteger.
De quê? 
Eu tive medo de amar. Porquê em muitos momentos, amar doeu demais. Exigiu demais, demandou emergia demais. E, vocês sabem, eu tenho um "quê" de preguiça pra tudo que demanda mais energia do que estou disposta a oferecer. 
É isso... eu não me dispus à entrega. Nunca fui chegada a decisões... e amar é decidir, cada dia, enfrentar pequenas batalhas pra permanecer. Sou volátil. Preciso renovar minhas questões e necessidades, preciso evoluir, preciso mudar... ninguém muda tão rápido assim. 
Enfrentei dificuldades para encontrar quem se dispusesse à um amor tão louco, mutável e divertido. E ao ver tanta dificuldade, simplesmente parei de procurar. 
Estagnei. Estranhei por quanto tempo eu não senti falta de ninguém... cronologicamente, tudo ficou muito relativo. E eu parei de fazer questão.
Adoeci. Por medo, frustração, desânimo, falta de amor próprio, distúrbios de imagem, ansiedade, fadiga. Mantive minha mente em cativeiro de um corpo que recusava toda e qualquer tentativa de contato físico. Repulsivo. Desagradável. 
Reconstruí uma autoestima, pedacinho por pedacinho, baseada numa nova imagem e numa nova mentalidade. Encontrei fatos novos sobre mim, conhecimentos e desejos. Eu aceitei minhas questões, aprendi com elas e me abri.
Alcei vôos no meu próprio inconsciente. Me conheci, me quis e me propus a ser melhor pra mim. 
E quando eu quis ser melhor pra mim, ansiei por alguém, pra poder dividir o sentimento que só é real quando compartilhado. Quis dividir meu riso, meu choro, minhas conquistas e meus anseios. Eu quis, depois de tempos recluso, botar meu coração pra jogo. 

domingo, março 08, 2020

sobre os amores que chegam para ficar

Cecília acreditava em destino, em estrelas, em conjunções e sinastrias... Com o passar do tempo, passou a fazer questão de ser dona do próprio futuro, respeitando os dias astralmente mais favoráveis, sim, mas tendo iniciativas que a faziam ser a pessoa que põe a vida pra girar. Talvez nem sempre pelos meios mais corretos ou convencionais, e nem sempre com ânimo e força constantes, mas sempre sem desistir do propósito principal que é ser feliz!
Numa dessas fases de carência e baixa auto-estima, Cecília comete o mesmo deslize que já havia cometido várias vezes no passado. Faz download pela milésima vez do app mais mequetrefe de encontros que roda por toda a rede. E, num filtro bem seleto de idade e região, eis que ele surge. Kalil, 25 anos, via-se pelas fotos que era alto, mas não bastasse, ele ainda declarou seus 1,84m na bio, um currículo acadêmico e profissional de dar inveja e de despertar o interesse dela logo de cara. 
Desde o principio foi muito mais do que um  "oi, tudo bem? me passa seu whats". E disso, apesar dos hiatos que ocorreram durante este ano que decorreu desde o famigerado match, pelo menos uma admiração mútua brotou.

terça-feira, fevereiro 11, 2020

Sobre o por quê eu gosto de você

Eu gosto de você
inteiro 
Da ponta dos pés
a raiz dos cabelos

Eu gosto de você
pela metade
Quando voce acha
que se perdeu e 
caiu. 
Novamente. 
Mas, enfim,
serviu pra te fazer 
ver
que tu tem mais 
bem aí dentro de ti. 

Eu gosto de você 
assim
porque é quando 
vejo você crescer
internamente 
e amadurecer.

Eu gosto de você 
renascendo.
Buscando novos porquês
e se enchendo de vida

Eu gosto de você 
até quando tu 
não merece. 
Gosto porque fujo
do meu padrão 
e fico vulnerável. 

Eu gosto de você 
me falando 
que teu amor queima.
Quando nem você sabe
de fato
se queimar é bom.
Mas te ensinaram 
a amar assim. 
E agora
é como você ama.

Eu gosto de você 
porque a minha 
zona de conforto
vem abaixo
quando tu chega.

Tu desfaz meus por quês.
E me dá novas coisas
pra amar e pensar.

Eu sinto que
eu gosto de você 
mais do que devia
e exatamente quando
não poderia. 

Mas gosto. 
E fim. 

segunda-feira, janeiro 20, 2020

Sobre os Grandes Sertões de nossos dias


Guimarães Rosa dizia que "o correr da vida embrulha tudo"... faz um fuzuê dentro do peito, mexe nos caminhos que tínhamos planejado seguir. E o que era pra ser pra sempre torna-se um breve instante. Uma efêmera conjugação verbal... um mero ser agora, nesse exato momento: é absolutamente tudo o que temos. E mesmo contra nossos impulsos "esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta" numa constante não linear que só o Acaso sabe definir. Uma progressão matemática cujo fator desconhecemos. E pra quê saber? Tem graça saber? Se a graça está em dar o passo pra depois ver o chão. Ousar!
Porquê "o que ela quer da gente é coragem", a vida quer o esforço, quer o suor no trabalho, quer o suspiro da audácia. Sem coragem, somos verbos sem ação. Verbos mortos... e o Verbo não pode morrer. Ir é simples... "eu vou!" é o pulo. Se pôr em movimento faz crescer.
Pra que na busca, sejamos felizes... "ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria", ser abundante, transbordar e criar memórias que nos façam gargalhar ao recordar "e ainda mais alegre na tristeza" para ter certeza de que isso também vai passar. Porque na efemeridade do que somos, nossos sentimentos são passageiros: mesmo nossas mais intensas alegrias passarão.