quarta-feira, agosto 10, 2011

Inusitado encontro



A data em si já era algo incomum. Quem – além de mim mesma - inventaria de fugir de casa no dia do próprio aniversário? Acho que a resposta cabe ao meu eu-lírico, se torna exclusiva e aplicável somente em minha medíocre vida. Enfim, o fato é esse: resolvi fugir de casa no dia do meu aniversário de dezoito anos. Antes que você comece a me julgar por ser irresponsável, rebelde, revoltada e blá blá blá como todo mundo gosta de dizer que sou, me ouça: Eu não fugi por não gostar dos meus pais; Eu não fugi pra querer me esconder de algo, muito menos para esconder algo; Na verdade, nem eu sei por que o fiz. Mas era algo que meu coração clamava há tempos.
Há anos eu já não via mais interesse nas pessoas. Escola pra mim era algo totalmente social e se havia algo que eu - absolutamente - não queria era ter uma vida social. Nunca quis, aliás. Muitas vezes fui inserida nesse meio selvagem, mas apressei-me em sair, para que não houvesse danos permanentes em meu caráter. Dou graças que esse período de aulas tenha acabado.
A formatura tinha sido um desastre. Todos zombaram de mim pelo modo como me apresentei e pelas palavras que proferi. Não posso mudar o que sou, e eles deveriam entender e respeitar isso, afinal, como mencionou *Clarice: “E se me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar”. 
Ao fim do Ensino Médio meu único desejo era enfiar a cara em alguns livros e poder transpor minh’alma em palavras. Expressar-me de um modo totalmente diferente do qual eu fazia durante os últimos anos da minha vida. Ansiava deixar meu espírito transparente, cristalino; Queria purificar-me de todo o mal que aquelas pessoas haviam me feito. Dessa vez, minha escolha por roupas escuras e maquiagem pesada não seria o suficiente para expressar o estado vegetativo em que minha mente se encontrava. Nada do que eles ensinavam fazia sentido pra mim, ao não ser as aulas de literatura, inglês e filosofia. Nessas, eu podia me destacar e mostrar para que foi que eu nasci. Fui gerada para filosofar, rimar, encontrar sentido onde só há o vácuo; Compreender e expandir minha mente. Esticá-la como um elástico em torno dos assuntos que são interessantes para mim.
Havia algo nas exatas que me repelia.Uma coisa que me fazia ir para longe. Como os lados iguais de imãs de se afugentavam, eu fugia das exatas. Talvez pelo simples fato de ser como elas e ter o mesmo princípio dos imãs. Podia ser. Eu exercia uma força imensurável contra o mundo, assim como a atmosfera implica a Lei da Gravidade sobre os pobres viventes dessa Terra. Sempre fui complexa, como um escalonamento matemático. E normalmente influenciável similar ao que ocorre à água, se derretendo conforme as temperaturas à que é submetida.
Ao fim daquele período, eu queria me isolar e repensar minhas filosofias. E eu sabia que em casa, em meio à sociedade doméstica a qual eu era submetida, não haveria o tipo de mudanças que eu desejava. Conseqüentemente, “fugir” –no sentido figurado- foi a alternativa mais cabível que surgiu.
Sentido figurado porque, de certo modo, meus pais entendiam a minha necessidade de compreender-me, e devido a isso não ficariam surpresos com a minha ausência durante alguns dias. Eu não poderia abusar, é lógico, mas não era do meu feitio fazer coisas desse gênero, então eu sabia que eles ficariam bem e eu não levaria uma dura quando retornasse.
Eu não tinha muito dinheiro. Algumas economias, - é claro - mas nada que pudesse me levar a lugares surpreendentes e paradisíacos. Sempre gostei do litoral, e por ser baixa temporada, presumi que as passagens e a estadia não custariam tão caro, ou seja, eu poderia bancar algo próximo a uma espelunca limpinha. Por via das dúvidas, vendi um vídeo-game velho, que já não era útil. Tirei um pequeno lucro em cima do eletrônico ultrapassado. Não era algo que pudesse ser revendido, mas talvez as peças pudessem ser utilizadas no concerto de outros aparelhos. Creio que foi por isso que o vendedor se interessou. Ou quem sabe ele percebeu que eu precisava do dinheiro. Espero que não tenha deduzido que seria utilizado para comprar drogas, senão meu nome estaria na boca de alguns infames em pouco tempo. Eu não me importaria, mas meus pais ficariam, digamos, decepcionados comigo.
A cidade litorânea mais próxima da minha inóspita ‘fortaleza’ era Itajaí. Agradava-me. Era um dos destinos de férias favorito dos meus pais. Perto, barato, bonito e engolível. Digo isso porque minha mãe odiava praia, mas pela insistência ridícula do meu irmão sempre íamos ver o oceano durante as férias letivas.
A passagem estava custando pouco mais de quarenta reais. Era algo extremamente aceitável. Ainda me restariam algumas dezenas de reais para meu usufruto quando chegasse ao destino-final.  A hospedagem era o de menos; Preveni-me com uma barraca, caso fosse necessário eu poderia dormir ouvindo a ressaca do mar nas areias de uma praia qualquer.
Casualmente ou não, a decisão foi tomada próximo ao meu aniversário de dezoito anos. A data fatídica estava marcada. Avisei meus pais, por mera consideração e respeito. Sabia que eles sentiriam a minha falta, mas sabia que eles compreendiam minhas necessidades. Minha mãe tinha tido uma época extremamente semelhante à essa minha, e fora libertador pra ela, na época.
Dentro de um ônibus repleto de odores, liguei o player numa música qualquer. Aleatoriamente. Acaso ou não, tocava algo relacionado à praia: “No céu estrelado eu me perco com os pés na terra, vagando entre os astros. Nada me move nem me faz parar, a não ser a vontade de te encontrar. E o motivo eu já nem sei, nem que seja só para estar ao teu lado só pra ler no teu rosto uma mensagem de amor.”
 Fez muito sentido pra mim. Eu não iria encontrar ninguém. Eu precisava me encontrar, precisava estar ao meu lado. Há muito eu tinha me perdido em meio à pensamentos e ideologias, esqueci-me de mim, esqueci de me amar e de cuidar da minha mente. Deixei-me levar por momentos frustrantes e acabei vegetando durante anos, odiando pessoas que sequer tinham excitado meu ódio. Eu perdi um grande período da minha vida deixando de ver sentido nas coisas, fatos e ocasiões que eram de extrema importância para minha formação.
Desci na rodoviária seguinte e retornei para minha –a partir desse instante- cidade. Não era mais um local de decomposição, e sim um local de reconstrução. Compreendi o que precisava sem precisar tomar as atitudes drásticas que planejava.
                        Referências: Clarice Lispector.

Pauta Para o Bloínques. 80º Edição musical.

Ps: O Blogger não ajudou em nada nas edições e a postagem teve que ficar sem imagem, perdoem-me e culpem o nosso genioso hospedeiro.
Eu espero ter melhorado um pouco na escrita e que isso possa agradar vocês. Quero poder retomar a escrever aqui. Ando inspirada e realmente desejo que isso seja bom pra mim, e não me derrube em um período pré-fossa. 
Beijos, da tão melancólica garota que vos escreve. 
Raissa Tayná Klasman

Um comentário:

Marianni Mainardes disse...

Agora, me diz tem como não gostar daqui? I-M-P-O-S-S-I-V-É-L!!!
Quero te dizer que tem selinhos lá no Blog, e sentiria-me mto feliz se os aceitasse, pegue os que quiser..
Eu é que agradeço o carinho lá no Blog, tu és sempre bem vinda, viu?
Bjoo..♥

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